Todos contra Rhodan – A gênese da Terceira Potência
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As potências atacam ferozmente a abóbada energética. |
Os livros da saga Perry
Rhodan lidos em ordem aleatória (entre eles, dois do 6º ciclo) me
deixaram muito curioso para saber como tudo começou, especialmente sobre o surgimento da Terceira Potência. Então, eu resolvi seguir a ordem correta.
Voltei ao 1º ciclo e li os cinco primeiros. Segue um breve
resumo de cada livro e comentários a respeito dos pontos que me chamaram
atenção.
Missão Stardust (P1)
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Ediouro |
A primeira parte do livro trata da viagem
à Lua. Confesso que não estava com paciência para ler (essa narrativa mais do que conhecida), então segui a
sugestão do editor e pulei para a página 52. A segunda parte narra o encontro
de Rhodan e seus companheiros com os extraterrenos arcônidas – a
nave está avariada e, por isso, eles estão presos na Lua. Os líderes são Crest e Thora.
Crest está fisicamente doente. Os outros tripulantes estão psiquicamente
doentes, decadentes, sem o ímpeto que os fez criar outrora um grandioso império
estelar; encontram-se ociosos por causa de robôs que se ocupam
de todo o trabalho e viciados num entretenimento sensorial que nada de bom lhes
acrescenta. Isso remete a um futuro que parece próximo – e infelizmente
provável – de um certo povo, que ocupa um certo planeta, fora das páginas
da ficção científica, no romance da vida real.
A
visão daquela tecnologia fantástica, muito além dos sonhos terráqueos mais
loucos, provocou em Rhodan uma espécie de iluminação: o incrível progresso
arcônida serviria para impedir uma hecatombe nuclear iminente capaz de
exterminar toda a vida da Terra, igualmente para unificar as potências e,
ainda, expandir ao infinito os horizontes humanos, por meio da exploração do
universo – a nave auxiliar dos arcônidas era capaz de chegar à distância de 500
anos-luz! Era insuficiente para eles, que desejavam retornar ao planeta de
origem, distante 34.000 anos-luz do sistema solar, mas um gigantesco passo
inicial para os humanos.
A Terceira Potência (P2)
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Ediouro |
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SSPG |
Como Rhodan volta à Terra e se
recusa a entregar Crest, Thora e a tecnologia arcônida aos EUA ou qualquer
outra potência terrestre, torna-se o inimigo número um da humanidade. E o
primeiro terrano, segundo Crest. A Terceira Potência se estabelece
no Deserto de Gobi, protegida por uma cúpula energética
impenetrável. Como Rhodan é norte-americano, o Oriente acusa
o Ocidente de estar mancomunado com Rhodan e vice-versa. Algo
parecido com o que aconteceu na Segunda Guerra, com os misteriosos foo
fighters (aliados acusando o eixo e vice-versa), e que também ocorre hoje, com drones, balões e UAPs. O
conflito nuclear é inevitável, mas Thora, direto da Lua, intervém e neutraliza
todos os veículos, terrestres, aéreos e marítimos, bem como os mísseis
lançados. Os líderes terráqueos logo percebem que Rhodan não está para
brincadeiras e tem um poder inimaginável em mãos. É essa a força que obrigará a
união das potências. Isso já se consegue, de certa forma, nesse primeiro
momento: os grandes players da guerra deixam temporariamente
suas diferenças e ressentimentos de lado e se unem contra Rhodan, a critério
deles, o único inimigo. É o primeiro estágio do sonho de Rhodan, ainda que
comece como um pesadelo.
A Abóbada Energética (P3)
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Ediouro |
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SSPG |
Episódio extremamente tenso e
emocionante. As potências terrestres atacam com todas as forças a Terceira
Potência. Em alguns momentos, Rhodan e seus companheiros temem pela destruição
da cúpula energética. É uma situação claustrofóbica e angustiante. Crest está
em coma, depois de ser tratado da leucemia, e não pode ajudar. Rhodan ainda não
sabe lidar bem com a tecnologia da nave e, por isso, desconfia que seu
sonho/projeto está próximo do fim. O personagem demonstra seus medos e
inseguranças e isso é narrado de uma forma muito honesta, e realista; do contrário, Rhodan seria um personagem perfeito em demasia,
fora da realidade.
Apesar da situação crítica,
começam a surgir aliados (inclusive os espiões que foram encarregados de entrar
na cúpula e de usar uma arma biológica para eliminar Rhodan): pessoas que acham
que Rhodan tem razão; que veem nas suas atitudes a perspectiva de um mundo
melhor, com uma humanidade unida, sem
guerras hobbesianas de todos contra todos promovidas pelos
próprios Leviatãs. A nave arcônida que está
presa na Lua é destruída (e isso trará graves consequências para a Terra, é o
que se começa a ver no livro 5). A mentalidade humana ainda tem muito o que
evoluir. Mas esse ponto é bem bacana: se todos aceitassem desde o princípio a
proposta de Rhodan, seria demasiado fácil, e a história seria uma
completa (e ingênua) utopia. Uma civilização belicosa e que está
acostumada a viver sob conspirações, batalhas e guerras, num verdadeiro e quase
ininterrupto jogo de gato e rato, não compraria de imediato a ideia de Rhodan.
O Crepúsculo dos Deuses (P4)
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Ediouro |
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SSPG |
Os líderes terráqueos (futuros terranos) seguem atacando a abóbada. Um
general traça um plano engenhoso e audacioso para furar o bloqueio da abóbada e
destruir o "verdadeiro inimigo", a Terceira Potência, com a detonação de uma bomba no subterrâneo. No entanto, apesar do crepúsculo, os deuses estão
do lado de Rhodan, porque entram em cena os mutantes (os precursores dos X-Men),
que se aliam a Rhodan e prestam um enorme auxílio. Que ideia espetacular! A entrada deles na
história merecia um livro à parte. Destaco John Marshall (que tem o dom da
telepatia), Tako Kakuta (teleporte), Ernst Ellert (teletemporação, viagem no
tempo por meio do espírito, já que era impossível para a matéria, até aquele
momento da narrativa, viajar no tempo) e Ras Tchubai (teleporte). Aliás, achei sensacional a
história do Ras Tchubai. Eu me senti lendo alguma coisa do H. Rider Raggard ou
do Edgar Rice Burroughs. Que climatização fantástica. Uma mini aventura no Congo*
(infelizmente curta), bem no estilo pulp. Segue um trecho:
“Na qualidade de químico, (Ras) participou de uma expedição pelo interior da África, onde existia certa qualidade de abelhas selvagens, cuja geleia real, rica em hormônios, era imprescindível à produção do soro.”
“Há várias semanas, a expedição vagava pelas florestas que cercam as
nascentes do Congo. O contato pelo rádio fora interrompido em virtude de uma
pane no transmissor-receptor. Os carregadores haviam-se demitido um por um, à
sua maneira, mergulhando na escuridão da floresta.”
(DARLTON, C. O Crepúsculo dos Deuses. cap. 4, pp. 91-92)
A tecnologia arcônida proporciona a Rhodan e Reginald Bell um upgrade cerebral. É a aurora do Rhodan “super-homem” (übermensch).
* Para quem gosta de lendas, arqueologia e histórias sobre expedições,
recomendo os dois volumes do livro Cidadelas do Mistério, de L. Sprague
de Camp e Catherine C. de Camp.
Alarma Galáctico (P5)
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Ediouro |
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SSPG |
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Na Lua, Rhodan e Haggard verificam os destroços da nave-fuso vinda de Fantan. |
Este volume foi escrito por Kurt Mahr e tem uma virada nos últimos capítulos. Os primeiros são meio monótonos. Ao ser destruída na Lua, a nave arcônida emitiu um alarme, programado para ser captado por espaçonaves arcônidas, dirigidas por robôs capazes de identificar a origem do ataque e contra-atacar. Com isso, Rhodan entra em contato com Allan D. Mercant (o cabeça da Agência Internacional de Inteligência), expõe o risco que a Terra passa a sofrer a partir daquele evento, e consegue, enfim, apoio das superpotências. Conforme esperado, alguém capta o alarme, mas não são os robôs arcônidas: trata-se de alienígenas lovecraftianos e belicosos, de reprodução assexuada, como vegetais, vindos do planeta Fantan. Estes são destruídos na Lua por Rhodan, Bell e Crest. Nossos heróis voltam à Terra, são condecorados e a Terceira Potência é reconhecida e convidada a participar de uma conferência das grandes potências mundiais, com direito a voto. A primeira parte do sonho de Rhodan começa a se realizar. Ele pode finalmente começar a abastecer e ampliar a Terceira Potência, que se torna uma aliada essencial, já que é a única capaz de alavancar o desenvolvimento tecnológico global e de proteger a Terra de futuras investidas por parte de invasores alienígenas. O empreendimento de Rhodan nesse primeiro momento da história foi uma tarefa dificílima. Por exemplo, no filme O Dia em que a Terra Parou (1951), nem o alienígena Klaatu conseguiu fazer com que os líderes mundiais se reunissem para ouvir a mensagem que ele tinha a dar (apenas conseguiu reunir cientistas de vários países).
Tal ideia de uma união de todas as nações para combater uma eventual invasão alienígena parece bastante inovadora, já que em Guerra dos Mundos (1897), a invasão é um problema local (Inglaterra). Em Vivos 20%, de John Wyndham (1953), todos os países são invadidos por alienígenas que, num primeiro momento, escondem-se nos oceanos para depois iniciar seu ataque, porém cada nação lida com o problema isoladamente. Na vida real, os primeiros chefes de Estado a levantarem essa hipótese foram Reagan e Gorbachev, em 1985, ou seja, décadas após a criação de Perry Rhodan e desses outros romances que citei. Mais recentemente, Obama e Trump voltaram a comentar essa ideia.
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