Brazilian Gothic – Cadernos de Halloween – Fantasmas
O que são os fantasmas, essas
entidades que assombram a humanidade desde a madrugada dos tempos?
Para uns, são as almas de pessoas
mortas que vagam entre os vivos porque estão presas a situações ou certas tarefas
inacabadas que tentam finalizar de forma obsessiva. Podem ter dificuldade de se
desligar de bens materiais (incluindo lugares, eis a fonte das casas
assombradas) e podem estar presas a hábitos ou vícios – vide os hungry ghosts
do budismo, espíritos condenados a nunca poder saciar suas necessidades (fome,
sede), por isso chamados de “famintos”, tanto que, na Tailândia, as pessoas têm
o costume de construir as ghost houses, que são miniaturas das casas em que
moram, onde elas colocam como oferendas comida, bebida e até dinheiro, para
apaziguar os espíritos e mantê-los afastados da casa verdadeira. Afetos são
outros laços que podem aprisionar essas almas ao reino dos vivos: elas não
conseguem se desvencilhar das pessoas que amam ou que odeiam. Vampirismo: há
espíritos que se tornam vampiros de energia, obsessores (encostos). Algumas
almas penam e vagam sem paz por terem cometido algum crime ou pecado mortal,
como o suicídio ou, ainda, foram vítimas de morte violenta e precoce, e ficam aprisionadas
aos locais onde agonizaram.
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Uma ghost house tailandesa. |
Algumas correntes esotéricas teorizam que as almas, uma vez libertas de seus corpos físicos, migram para outros planos. No Egito Antigo, por exemplo, pensava-se que essa alma unir-se-ia ao todo, ao cosmos ou ao criador. Se eles estiverem certos, o que é visto por tanta gente? Quem ou o que assombra as pessoas e os lugares?
Uma resposta para isso é que os fantasmas seriam memórias. Restos ou resíduos da alma. Gravações holográficas que são perceptíveis a pessoas com uma sensibilidade mais apurada. Estas, involuntariamente, acionariam o “Play” do player, tendo a oportunidade de assistir a um “curta” 3D, com personagens protagonizando um antigo enredo, encenando um drama que se repete à exaustão, por séculos. Alguns cristãos protestantes veem nessa projeção fantasmagórica uma atividade demoníaca: um demônio é que seria o projecionista. A grande diferença entre fantasma e assombração é que um fantasma é repetitivo, seus atos são mecânicos (por isso ele não costuma interagir com a testemunha, geralmente não há contato visual entre ele e o vidente, quando ele parece olhar para quem o vê, na verdade ele está olhando para além da pessoa, como se esta fosse transparente), seu repertório é acanhado. Já a assombração interage com a testemunha, fala com ela, a toca, entre outras coisas.
Parece haver também uma influência geográfica na aparição de fantasmas: haveria lugares que são encantados. Locais que possuem anomalias magnéticas, cruzamentos de linhas ley, sítios próximos a água (mar ou rio) e pedreiras atrairiam fantasmas e espectros. E, claro, lugares que foram palco de eventos trágicos, como grandes acidentes e batalhas sangrentas.
Há muitas pessoas que não
conseguem ver, mas são capazes de perceber uma presença fantasmagórica por meio
de outros sentidos, como o tato, o olfato e a audição. Eu tenho um tio que
jamais viu coisa alguma, mas que era atormentado na infância por ouvir à noite,
em seu quarto de dormir, passos, cadeiras sendo arrastadas, jornal sendo
folheado, entre outros sons. Numa dessas ocasiões, ele chegou a sentir a beira
do colchão de sua cama afundar, como se alguém tivesse se sentado. De lá para cá – hoje ele é idoso – nada mais
aconteceu; ou ele perdeu esse dom ou os fantasmas desistiram dele. Ainda sobre
apenas ouvir, eu conheci um caso muito interessante, de um ouvinte de um
programa de rádio em que eu trabalhei, que era deficiente visual. Ele relatou
que, numa noite, ele passou um bom tempo, cerca de uma hora, ouvindo uma pessoa
andar pelo apartamento dele e mexer em diversos objetos, sendo que ele morava
só. Eu nunca vi nada, mas também já ouvi barulhos estranhos e já tive aquela
famosa e incômoda sensação de não estar só.
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Um exemplo de falso fantasma: a Menina do Corredor, que supostamente assombraria uma escola abandonada ou hospital (as versões variam) na Indonésia. Ainda que falso, é arrepiante. |
Descartando superstição, medo,
mentiras, imaginação fértil e problemas psiquiátricos, ainda sobram muitos
casos impressionantes. Como eu já disse por aqui, onde há fumaça, há fogo. Sejam
almas, resíduos ou memórias de parede, que tem alguma coisa, tem.
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