Brazilian Gothic – Cadernos de Halloween – E os demônios?

Será que existem operários do mal, criaturas responsáveis por manter acesas as chamas do crime e da destruição? Seriam esses seres criados por nós mesmos, uma exteriorização do mal interno de cada um? São almas humanas, de pessoas que eram más quando vivas, ou são criaturas de outra natureza, habitantes do reino espiritual?

A origem dos demônios de acordo com a Bíblia é controversa. Existem algumas versões e, grosso modo, é possível dizer que há um ponto de convergência: eles seriam anjos que se corromperam, anjos caídos.

Todas as religiões e crenças falam de seres malévolos. Todas têm um ponto em comum, que é a natureza diversa dessas criaturas: elas não são (e nunca foram) humanas (nas religiões mais antigas, essas criaturas não raro estariam no rol dos duendes e gênios perversos). Foram criadas à parte, no mundo espiritual, e vivem entre os dois mundos. São mais antigas que o homem e, por isso, têm um conhecimento amplo e arcano da psique humana. Têm grande astúcia, “malandragem”, mas parecem não ter uma inteligência que supere a nossa. Guiam-se muito mais por instinto e experiência (são excelentes imitadores da cultura humana). São seres primitivos, cuja ação é imatura e histérica (o clássico O Exorcista, baseado num caso real de possessão, nos mostra bem isso).

São criaturas limitadas, mas que têm grande poder destrutivo. No mínimo, funcionam como barreiras e pedras no caminho. São os arquitetos das tentações humanas, sabem instigá-las e fazer o homem se autossabotar e cair, tal como caiu o pai de todos os anjos caídos, Lúcifer.

No cinema, os demônios têm um poder muito maior e, em termos estéticos, são muito mais apavorantes que o legado iconográfico medieval. Existe até um apocalipse demoníaco, na duologia Demons (Demoni), na qual a possessão se espalha como uma doença à moda da licantropia ou dos zumbis: as pessoas feridas por um demônio sofrem uma horrível transformação, tornando-se demônios desfigurados, animalescos e repulsivos, que babam substâncias verdes ou branco leitosas. No primeiro filme, a infecção demoníaca se espalha no interior de um cinema fechado. Um casal sobrevivente, ao sair, encontra um cenário caótico: a maldição se espalhou por toda a cidade.


Os repugnantes e arrepiantes demônios de Demons, Filhos das Trevas (1985).


Em Noite dos Demônios, uma trilogia, o processo é parecido: as vítimas se tornam demônios, engrossando o exército infernal, mas, ao contrário de Demons, as vítimas mexeram com fogo: foram comemorar o Halloween numa casa abandonada que havia sido uma funerária e que, para completar a aura funesta, ainda teria sido palco de crimes e desaparecimentos.


Angela, o vetor da doença da possessão, em Noite dos Demônios (1988).


Um acidente desperta os demônios em outra trilogia clássica: Evil Dead. O grupo de amigos deu azar de escolher uma cabana isolada na floresta, que tinha sido cenário de uma invocação e possessão demoníaca e, ainda por cima, desperta os terríveis demônios, conjurando-os por meio do livro maldito Necronomicon.

Evil Dead, apavorante.

Ainda que não existam criaturas devotadas ao mal 24 horas por dia, todos nós temos esse outro lado obscuro em nossas almas, só esperando um momento de fraqueza para tomar conta, como uma doença diante da baixa da imunidade. Daí a importância do conselho de Cristo: “Orai e vigiai”.

 

 

 


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