Postagens

Mostrando postagens de setembro, 2022

Medos de uma criança nos anos 70 e 80 – parte III

Imagem
  Apesar de estudar no turno da tarde, eu acordava lá pelas 8 da manhã e corria para o sofá para assistir aos meus programas infantis, seriados e desenhos favoritos. Havia alguns personagens, situações e até cenários desses seriados que provocavam medo, apesar da segurança e do conforto trazidos pela claridade do dia. Esses medos formavam o repertório para os arrepios noturnos, porque o medo se manifesta com mais força depois que escurece e na solidão do quarto de dormir. Uma das séries que me dava um certo medo era o Elo Perdido, por causa do enredo, dos cenários e de alguns personagens. A ideia de acidentalmente ser conduzido a outro mundo, nesse caso, um mundo que ficou estagnado no tempo, à moda de Peluccidar, de Edgar Rice Burroughs, é chocante e um tanto quanto medonha. A série tinha uns personagens estranhos: seres com cara de animal marinho e corpos que remetiam a alienígenas, e o famoso Cha-Ka, hominídeo muito feio e relativamente assustador para o olhar de uma criança. ...

Cada um tem seu próprio buraco negro, sem precisar do CERN ou de ir a Tunguska – um breve ensaio sobre Black Hole, de Charles Burns

Imagem
Fui presenteado por amigos queridos com a graphic novel Black Hole , do desenhista norte-americano Charles Burns, criado na chuvosa Seattle, terra que viu surgir o deprimido e algo gótico grunge, nos anos 90, e onde muito antes veio à luz o virtuoso Jimmy Hendrix. No meio desse caminho com terra molhada, em 1972, a espetacular banda canadense The Guess Who gravou o seu ótimo álbum ao vivo, Live at the Paramount.  Eu conheci o Charles Burns nos anos 80, nas páginas da Heavy Metal, que, à época, vinha publicando sua série chamada El Borbah . Esse personagem se parece com El Santo, um lutador mexicano de luta-livre e ator que foi muito famoso nos anos 60. O traço do Burns é incrível. É limpo, ao mesmo tempo que ele usa muito a cor preta (o contrário de Moebius e do nosso Watson Portela, por exemplo), e realista. Esse uso do preto lembra um pouco o desenho nordestino que vemos nos livrinhos de literatura de cordel. Alguns traços fisionômicos dos personagens remetem a ilustrações amer...

Medos de uma criança nos anos 70 e 80 – Parte II

Imagem
  Medo TV As crianças não precisavam assistir a filmes de terror para sentir medo. Havia muita coisa apavorante na programação infantil, desde os desenhos animados até os programas que usavam atores fantasiados de animais ou criaturas fantásticas ou, ainda, tinham fantoches como personagens. Muito disso, visto depois que se cresce,  sob um olhar adulto, parece risível, mas a imaginação infantil é muito fértil e a criança é muito impressionável: qualquer faísca já é suficiente para provocar um incêndio.   É lógico que muita coisa não foi projetada para provocar medo na criançada, acontecia inesperada e espontaneamente. Além disso, não era nem de longe algo unânime: aquilo que me assustava de repente não produzia efeito nenhum para um amiguinho meu.   A programação adulta, embora cobiçada pelas crianças, era pouco vista, só às escondidas, num eventual momento de distração dos pais ou por meio de uma “vitória pelo cansaço” – quando, depois de muita insistência, o pai ...